terça-feira, 20 de julho de 2010

AUTORITARISMO ARCAICO

Uma certa instituição ficou décadas sem investir na qualificação de seus médicos. Cada qual que cuidasse de se manter atualizado, tirasse férias para conseguir frequentar os congressos sem os quais perderiam seus títulos de especialista.

Finalmente esta certa instituição patrocina um um curso mas, embora bem-vindo, fere o princípio constitucional da eficiência, já que se destina a servidores que estão em vias de se aposentar. Enquanto o vestibular e o concurso são barreiras de acesso, o curso oferecido é para sair, ou melhor, retardar a saída e dificultar o acesso à progressão funcional e salarial.

Que essa certa instituição é mestre em artimanhas contrárias aos seus servidores, que tem a índole autoritária, todos sabemos e, portanto, não surpreende que o curso tenha vetos a professores, censura prévia de conteúdo e vigilância interna de arapongas ali matriculados sem os requisitos da lei.

Quando ingressei na faculdade de medicina tinha isso lá, "alunos" plantados pelo DOPS; mas isso foi nos anos de chumbo da década de 70...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Modus Operandi

Os criminosos podem ser identificados por sua maneira de agir que guarda um padrão capaz de revelá-los. Mesmo os não criminosos, os neuróticos, tendem a repetir uma atitude que os beneficiou em experiências anteriores. À medida que o tempo passa, observamos as pessoas e passamos a compreender seus atos e até prever os seus próximos passos.

Por exemplo, há gente que tem por meta de sua extrema vaidade chegar-se próximo aos detentores do poder, ministros de estado, presidentes, por exemplo. Isso lhe dá imenso prazer narcísico. Para conseguir, é capaz de rifar o interesse de sua classe (e a sua própria) só para se sentir eminência parda de um ministro. Sua relação com as pessoas é de triturá-las, não para destruí-las, mas para reerguê-las como suas colaboradoras. Faz assim com a esposa, filhos, empregados domésticos, colegas de trabalho. Estes sujeitos destróem aqueles com quem negocia, radicaliza quando ninguém vê motivo para radicalizar para, depois, associar-se a eles como se nada tivesse acontecido, em uma relação de dominação que só a ele favorece. Por isso dá a impressão de trair, de mudar de lado, quando, na verdade, era tudo uma estratégia que se aprimora a cada aplicação.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Bem-amado está de volta!

Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo e as irmãs Cajazeiras estréiam no cinema em obra de Guel Arraes e grande elenco: Marco Nanini, José Wilker, Caio Blat e outros. A estréia será dia 23 de julho.

O texto original de Dias Gomes foi adaptado e exibido em 1973, um dos marcos da televisão brasileira, com a estréia de Lima Duarte na Globo.

O Bem Amado deu origem a uma deliciosa série que foi ao ar entre 1980 e 1984, com 220 episódios impagáveis.

Quem não viu terá uma nova oportunidade "modernizada". Resta saber se o personagem principal imortalizado por Paulo Gracindo será revivido com a mesma intensidade.

Temos o nosso Odorico particular, com frases recentes muito boas:

" o que nós visávamos era otimizar a escassez dos consultórios"
"você proporcionaliza a que a demanda de atendimento aumente"
"A previdência hoje atende esse um consultório em jornada de 8"
"A falta de segurança advém desde 2004"
"tivemos dois casos de morte que foram executados"
"a perícia é um dos integrantes; tem outros incrementos no benefício que não faz parte da perícia."
"é neste momento aonde várias situações de você ser assediado".

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Essa greve eu não faço mais

Lamento comunicar que, diante das notícias que chegam do CFM, não há como referendar a decisão da AGE. Greve é um direito individual e cada um que o exerça segundo sua consciência. Discordo da arrecadação de mais 600 mil reais, mas, democraticamente, não bloquearei a mordida na minha conta corrente. Não concordo com greve sem ato público, sem gente nas ruas (ou no Congresso da República).
Não concordo que uma greve forte se atenha a pauta conjuntural, sem mudar a estrutura da carreira.

Os temas são importantes, não os nego, mas são para acompanhamento permanente e não serão resolvidos com greve que não vá mais fundo na questão. As 6 hs, estas sim, são o que pode ser resolvido, e ser relevante, mas é pouco. Greve para arrecadar; greve de promoção pessoal, que não debate com o público, que impede a categoria de participar das negociações e de ir a Brasília (estratégia para que tudo dependa de um só homem, tornando-o insubstituível?) que visa eleições e arrecadar para isso, essa, colegas, não me pega.

Os líderes temem o prolongamento do movimento e, para evitá-lo, impõem a manutenção de uma pauta confusa para as necessidades reais da carreira. Repete-se 2008. Nada se subsídios; nada de ato público. Na AGE de deflagração teria sido dito que a expectativa era de 4 ou 5 dias; estamos com 15 e os líderes mostram desconforto, portanto, pauta pequena, negociada a menor, é o que convém a eles. Os 70 delegados não foram o suficiente, mais uma vez sucumbiram. Até quando?

Na minha avaliação, a greve caminha para vitórias pífias ou para o endurecimento do governo. Quem quiser apoiar que o faça, não estou desestimulando ninguém, mas devo externar minha posição pessoal, como sempre fiz.

Para refletir

O texto que segue abaixo foi escrito para uma formatura da FAAP, por Nizan Guanaes, que foi o paraninfo da turma. Olhe só o que este publicitário escreveu! Deve ser por isso que é um dos melhores redatores do mundo e dono da DM9 (aquela que criou os bichinhos da Parmalat). 

'Dizem que conselho só se dá a quem pede. 
E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho licença para dar alguns. 
Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja aqui vão alguns, que julgo valiosos. 

Meu primeiro conselho: 

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. 
Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor. 
Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. 
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. 
Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. 
Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. 
Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. 
E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham, porque são incapazes de sonhar. 
E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. 

A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. 

O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: 
- 'Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo. ' 
E ela respondeu:
- 'Eu também não' 

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. 
Digo apenas que pensar e realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. 


Meu segundo conselho: 

Pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. 
Afinal , é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. 
O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. 
Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chegam a viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. 


Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: 

'Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito'. 
É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: 
Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito, ou seja, é preferível o erro à omissão, o fracasso ao tédio, o escândalo ao vazio . 
Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. 
Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. 


Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. 
Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido, tendo consciência de que cada homem foi feito para fazer história. 
Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. 
Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar, sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. 

Não use Rider, não dê férias a seus pés. 
Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: 'eu não disse!', 'eu sabia!'. 

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. 

Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. 
Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. 
Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. 

Eu digo : trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio (que é a morada do demônio) e constrói prodígios. 

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito o que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses, que trabalham de sol a sol, construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta. 

Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. 

Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo (que é mesmo o senhor da razão) vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. 

E isso se chama SUCESSO.'