Enfim, a greve. Um momento de luta, mas que nos obriga à reflexão. Sucumbimos à vingança sindical contra a ousadia de dar um jeito no caos do auxílio-doença; sucumbimos à ira recalcada contra a profissionalização e valorização da categoria médica, particularmente médico-pericial. Sucumbimos à soberba de nossos representantes, ao isolamento político, aos colegas que ocupam cargos diretivos e exercem autoritarismo fisiológico. Sucumbimos à má escolha eleitoral (sem significar necessariamente que a outra chapa seria a ideal), à não renovação de lideranças. Sucumbimos à indefinição da classe quanto ao modelo ideal de carreira. Faltam propostas, faltam negociadores (o atual queimou-se ao longo dos processos anteriores, tem muitos inimigos pessoais), falta categoria unificada em torno de uma proposta legítima e defensável, de interesse público. Fomos coagidos a deflagrar greve por nada mais haver a fazer nas circunstâncias.
Tenho sido perguntado e não sei responder; se é difícil ser contra greve diante de tantas chibatadas, não é fácil também apoiá-la, pois veio tardia e não propõe mudanças estruturais na carreira, como fim da gratificação e elevação ao patamar de carreiras subsidiadas, principalmente. Nunca se falou nisso! Quem quer mesmo fazer greve não se preocupa tanto com que a mesma seja julgada assim ou assado. Se a causa é justa, vai com tudo! Isso é greve! Incomoda ver o excessivo zelo legalista e menos preocupação em exaltar as injustiças que levam à radicalização. Será que veremos caravanas dos doutores na rua, ou melhor, em Brasília, ou será que tudo ficará hierarquizado? Não basta parar, é preciso pressionar o governo, conquistar a confiança e engajamento real dos grevistas. Oxalá não seja mais um fiasco, pois não temos como assimilar.