terça-feira, 15 de janeiro de 2013

REDENÇÃO DA MEDICINA DE CONSULTÓRIO

O Presidente do Conselho Federal de Medicina fez uma proposta que será polêmica, isso se avaliada emocionalmente. Se a análise se aprofundar um pouco ver-se-á que é uma ideia magnífica para os médicos, para a medicina e para os pacientes.

O contexto da medicina moderna é marcadamente tecnológico. Novos exames e equipamentos mais modernos são incorporados todos os dias. A precisão tem tido custo elevado, mas pouco efeito na qualidade geral dos atendimentos. Por que o aparente paradoxo? Os pacientes passaram a crer que um bom atendimento envolve um bom exame complementar. A propósito, a medicina complementar, de apoio ao diagnóstico e tratamento passou a se auto intitular medicina diagnóstica, assumindo o protagonismo que caberia ao médico que solicitou o exame ou procedimento. Acontece que exames não fazem diagnóstico; quem faz isso é o médico, relegado a segundo plano.

O que temos é muito exame e pouco médico. Todos que se prezam dispõem de ao menos uma Ressonância Nuclear Magnética, muitas vezes pedida para abreviar a conversa no que não pode ser facilmente chamado consulta. É a sociedade de consumo de exames.

O faturamento das administradoras de planos de saúde já foi destinado majoritariamente para pagar os médicos, mas esse tempo passou e a incorporação tecnológica fez com que as fatias maiores fossem avidamente drenadas para os exames, arrochando o valor das consultas. Esse desequilíbrio não afeta apenas o médico, afeta as relações entre todos os envolvidos no setor de saúde.  Os consultórios clínicos, particularmente de Pediatria estão fechando e os profissionais migrando para o serviço público. A dificuldade em marcar consulta tem levado os usuários a procurarem os pronto-atendimentos, prejudicando os casos de efetiva urgência e sendo mal-atendidos, pois as emergências estão estruturadas para outro tipo de ato médico. De nada adianta a ANS estabelecer prazo de uma semana, um mês se não é esta a realidade.

A proposta do Presidente Roberto D'ávila é que as operadoras se desobriguem de pagar as consultas. Com isso elas ganham, reduzindo seus custos também porque a consulta paga tende a moderar o excesso de consultas demandadas apenas "para gastar o plano", como verbalizam certos pacientes consumidores de exames. Ganham os pacientes que terão redução em seus desembolsos contratuais mensais e a volta dos atendimentos de consultório cuidadosos e investigativos resgatando o protagonismo do médico em detrimento do Dr Google e da substituição de médicos por exames. Ganham os médicos, que terão oportunidade de sobreviver nos consultórios, ampliando as vagas para os conveniados e atendendo-os muito melhor. Para os demais atendimentos médicos permanecem as condições contratuais. Algo precisa ser feito pelos consultórios médicos, essa parece uma boa ideia. Mas a polêmica será grande e muitos preferirão o atendimento barato (30 a 40 reais), mesmo que feito de pé, no corredor ou 3 meses depois da marcação.

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