segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Clínicos em extinção

31.08.2009- Médicos como os clínicos gerais, os pediatras e geriatras, cuja diferença de atuação limita-se essencialmente à faixa etária de seus clientes tendem a desaparecer. Não se trata de premonição nem pessimismo, afirmar esse futuro já iniciado é fácil para qualquer observador razoavelmente atento. O problema é o que fazer para evitar. O primeiro segmento a entrar em processo acelerado de extinção parece ser a pediatria. Com efeito, já sobram vagas para residência médica em serviços anteriormente disputadíssimos. O pediatra de meus filhos, competente professor universitário, deixou a especialidade para dedicar-se à ultrassonografia. O que acontece com estas especialidades básicas? A medicina moderna, rica em recursos informatizados, passou a poder prescindir dos clínicos? O Dr Google resolveria a necessidade de um acurado diagnóstico uma vez que seu banco de dados acumula a informação necessária?

A resposta é seguramente não. A medicina tem como pilar fundamental a relação de confiança entre o médico e o paciente onde as próprias informações da internet podem ser debatidas, mas só o médico dispõe de formação para lidar com essas e outras informações e compartilhar com o paciente a melhor estratégia para seu caso em particular. Toda essa interação pode demandar até mais de uma consulta e é exatamente na consulta, em minha opinião, que se situa a questão fulcral que esvazia as referidas especialidades médicas.

Clínicos gerais, pediatras, geriatras, cardiologistas , gastroenterologistas e outros, ao terem na consulta o seu único ato médico, tendo como rercusos tecnológicos a escuta, a ausculta, a observação, palpação e percussão não são mais valorizados pela sociedade tecnológica. Tabelas como a CBHPM, que procuram relativizar os procedimentos médicos e precificar cada um deles, não distiinguem suas consultas da de outras circunstâncias freqüentes na prática médica cuja complexidade e tempo são signicativamente menores. Planos de saúde e, sobretudo, as cooperativas médicas precisam acordar para essa distorção que ofende o próprio princípio cooperativista ao favorecer desproporcionalmente os procedimentos periféricos à própria prática da medicina. Médicos como os citados, que não realizam procedimentos complementares sofisticados precisam ter suas consultas valorizadas em relação às consultas de especialistas que realizam outros procedimentos, frequentimente rentáveis. Não deixemos morrer os clínicos.

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