domingo, 18 de outubro de 2009

Hoje é domingo. Uma homenagem


Se a força é contagiosa, a fraqueza não o é menos: tem seus atrativos, não é fácil resistir.

Quando os débeis são uma legião, se encantam...se aplastam...Como lutar contra um continente de abúlicos?
Se o mal da vontade é agradável, qualquer um se entrega a ele com gosto.
Nada mais doce que se arrastar à margem dos acontecimentos; e nada mais razoável.
Porém, sem uma forte dose de loucura inexistem a iniciativa, os empreendimentos e as atitudes.
A razão corrói nossa vitalidade.

É o louco que existe em nós que nos obriga à aventura; se nos abandona, estamos perdidos: tudo depende dele, inclusive nossa vida vegetativa; é ele que nos convida a respirar, que nos força a isto, e é também quem impulsiona o sangue a correr por nossas veias. Se ele se for, ficaremos sós!
Não se pode ser normal e ser vivo ao mesmo tempo.
Se mantenho minha posição vertical e me disponho a ocupar o instante que está por vir, se, em resumo, concebo um futuro, isto se dá por uma desordem de meu espírito.

Subsisto e atuo na medida em que me permito minha loucura e que tolero minhas divagações.
Quando me foco em minha sensatez, tudo me intimida: deslizo até a ausência, a mananciais que não se dignam a afluir, até a prostração que a vida, porventura, deve ter conhecido, antes de conceber o movimento; me curvo à força da covardia que se encontra no íntimo de todas as coisas, completamente apartado diante de um abismo em que nada posso fazer, já que me isola do futuro.
Baseado em E.M.Cioran "Adiós a la filosofia y otros textos", Alianza Editorial, 2005.
(1.742)

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