O debate sobre autonomia médico pericial não é um fim em si mesmo. Schopenhauer brincava que se liberdade é fazer o que se quer, o querer antecede a liberdade, portanto não se tem liberdade de querer; é um trava-língua filosófico. Não podemos ficar discutindo a liberdade do perito e mergulhar num debate meramente filosófico.
A autonomia médico-legal tem importância porque se inscreve no debate republicano de direitos e deveres sociais, na indispensável isenção dos julgadores, na justa e equânime aplicação dos sempre limitados recursos públicos. Membros laureados do governo dizem que não nos devemos preocupar com isso e ser essencialmente "humanos", sensíveis ao sofrimento de nossos semelhantes. Como convencê-los? Através da massa crítica de nossos debates ampliados a todos os fóruns.
É absurdo que não tenhamos sido inseridos entre o rol de carreiras regulamentadas de primeira linha, subsidiados (e não assalariados). A oportunidade foi em 2008, época em que se deveria ter debatido o ponto de vista do parágrafo anterior com o governo (lato senso) e sociedade, mas não voltarei a falar nisso.
Tenho convicção, que é mais do que certeza, de que o INSS, o MPS, o MPOG e a Casa Civil não compreendem direito nem talvez pretendam compreender nosso papel judicante. Muitos pensam que somos meramente médicos, passíveis de sermos substituídos por quaisquer outros. Outros tantos - inclusive médicos - pensam que perícia seja especialidade médica; quando é mera ferramenta médico-jurídica, estruturada segundo os campos do direito (não das especialidades médicas) e executada por médicos.
A discussão sobre autonomia só faz sentido se estiver inserida na perspectiva reformista que alçaria a perícia ao campo da Medicina Legal, entendimento que dará todo sentido à demanda por autonomia, tão bem compreendida por quem conduz o debate, mas pouco clara por quem o assiste de fora.
Autonomia pericial tampouco é "bandeira de luta classista"...
ResponderExcluirÉ tema técnico e me espanta que peritos em posição bastante destacada não entendam isso (ou usem isso de maneira distorcida e de acordo com conveniências pessoais).
Luciana Coiro
Luciana Coiro,
ResponderExcluirA ética é massacrada e costumes repugnantes são aceitos por causa da paixão pelas riquezas. O problema é mais profundo. Antes de tudo, Primeiro é preciso aceitar, depois entender então resolver. O fato é que há dezenas de colegas médicos que vendem sua ética diariamente em coisas que apenas aparentam ser banais. Não deveriamos achar estranho, estamos no Brasil e entre nós peritos não seria diferente. Isso vem desde a formação. Somos acostumados a atender, operar e examinar de qualquer maneira. Consultórios e salas de cirurgia com mínimas condições são alguns dos exemplos. Somos desonestos em pequenas coisas. Coloca-se o nome de um colega que não participou da cirurgia para que ele receba honorários. Solicita-se uma cirurgia e se faz outra e por aí se vai. Emite-se um atestado para agradar um cliente. No fundo de todos os males está a vontade incessante de ganhar mais e mais. Feliz são os homens que conseguem desprender-se da ganância. Acho então que como por anos estavamos acostumados a atender 24 perícias e correr para nossos consultórios($$) nos vendíamos. É minha idéia sobre o tema e o porquê aceitamos durante anos a NÃO AUTONOMIA.
Continuemos...
Acho que o que se discute aqui já existe em outras carreiras públicas. No caso do médico, é mais complexo,mas apenas um outro ângulo de visão da mesma coisa. Todas tem princípios da autonomia são inexoráveis.
ResponderExcluirPara se alcançar a autonomia plena.
1) É preciso que a velocidade do trabalho não tenha repercussão no honorário.
2) É preciso que não se tenha preocupação demasiada com o recebimento de honorários.
3) É preciso estar protegido e ter autoridade. Autoridade de estado e/ou científica.
4) É preciso ter interesse pelo do trabalho e entender a sua repercussão assumindo seus riscos.
5) É preciso também que haja algo que envolve a natureza do profissional. Por isso deveria ser exigido antecedentes criminais e psicotestes para ser perito. Como todas as carreiras de estado o fazem.
Concordo contigo, Heltron.Há pequenas desonestidades permeando a atividade médica. Mais e mais a medida que os ganhos são mais "difíceis" ou "menores". Usa-se do argumento de receber menos do que se deve (verdade), mas ao invés de buscar lutar para mudar isso se a preferência é por pequenos truques para "trabalhar menos" e fazer a "hora" ser mais alta, ou ser o auxiliar fantasma da cirurgia.
ResponderExcluirTUDO ERRADO.
Temos que buscar o reconhecimento de nosso valor sem falcatruas. Para isso teus 5 passos acima são ESSENCIAIS.
Abraço, Luciana Coiro
Muito interessante
A falta de autonomia não é prerrogativa dos MPP. Ela tem antecedentes. Detem sua origem a formação técnica periclitante de jovens que procuram uma carreira já sem formação ética primordial (familiar). Agrava-se numa incompetente formação técnica e, em uma inexistente formação ética. Recebe reforços monumentais em exemplos de má conduta na convivência diária com "doutores" de alto coturno, empresários brilhantes (geram fortunas) subsidiados pela indústria, tanto de drogas como de máquinas. Assistem ao fenômeno de remuneração percentual e assim por diante.
ResponderExcluirEis aí a receita para tentar entender o que sucede com a grande família dos "de branco".
João Ritter Junior